segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Criação, como é vista no Zohar da Cabalá e em A Doutrina Secreta

(Artigo extraído de A Doutrina Secreta, vol. V, de Helena P. Blavatsky, Editora Pensamento, 
por Ernani Eustáquio de Oliveira – Membro da Loja Teosófica Brasília)

Se lermos o Gênesis da Bíblia no original, podemos constatar que sua frase inicial pode ser escrita de duas maneiras diferentes. A Primeira seria: “B’rasith bara Elohim eth hashamavim v’eth h’areths.”; nessa forma a tradução, em português, seria: “Da eterna Essência, a Força formou o Duplo Céu”. Já a segunda forma seria assim: “B’rash ithbara Elohim ethhasmavim v’eth’ arets”; já nessa forma o significado é bem diferente: “No princípio, Deus criou os céus e a Terra”. Como se pode constatar, foi a segunda forma de escrever que predominou na Bíblia, alterando completamente o sentido e conferindo um caráter antropomórfico a Deus. Por “Duplo Céu”, a primeira frase refere-se ao Céu Superior e ao Céu Inferior ou aos dois estados do Cosmos: o Númeno e o Fenômeno.

Tal sentido possibilitou a ideia de uma “criação”, isto é, de um Deus externo ao Cosmos, que o criou, um Deus objeto, fora. Na realidade, na Filosofia Oculta, o Cosmos não foi criado, foi emanado através do mecanismo da “diferenciação”. 

Segundo “A Doutrina Secreta”, o Cosmos, ou melhor, o Macrocosmos, do mesmo modo que o homem, sua cópia idêntica, o Microcosmos, divide-se em três Princípios e quatro Veículos. Os Princípios são: a Vida, a Alma e o Espírito. E os Veículos: o Corpo Físico, o Duplo Etéreo ou Astral, a Alma Animal ou Humana e a Alma Divina. Já a Cabala caldaica e judaica diz que o Cosmos se compõe de sete mundos: o Mundo Originário, o Mundo Inteligente, o Mundo Celeste, o Mundo Elementar, o Mundo Inferior (Astral), o Mundo Infernal (o Kama-Loka de A Doutrina Secreta e o Hades dos judeus) e o Mundo Temporal (nosso mundo físico). Segundo a Cabala caldaica, é, no mundo Inteligente (o segundo), onde aparecem os “Sete Anjos da Presença” ou os “Sephirot”, que são os Construtores, de que, fala A Doutrina Secreta, mas é somente, no terceiro Mundo, o Mundo Celeste, que os Sete Anjos da Presença constroem os sete planetas do Sistema Solar, os seus corpos visíveis.

Se o Universo foi feito da Substância ou Essência Eterna e Única, conforme diz a primeira frase original, do Gênesis, não foi essa Essência que lhe deu forma, mas sim os Raios Primários, os Dhyân-Chohâns, emanados do Elemento Único. Esse Elemento Único permanece em seu Princípio-Raiz, como Sempiterna e Única Realidade, sem se alterar.
O erudito cabalista ocidental, S. L. Mc Gregor Mathers, analisando o primeiro versículo original do Gênesis, assim se manifesta: “Brashit Bara Elhoim” significa: “no princípio, os Elhoim criaram!” E quem são esses Elhoim do Gênesis?” Outra parte do texto original, onde se lê: “Va yivra Elhoim at Há-Adam be-tzalmo, be-tzelem Elhoim bara oto zakhar vingebah bara otham” quer dizer: “E os Elhoim criaram Adão à sua própria imagem, à imagem dos Elhoim. Eles os criaram macho e fêmea.” Continua a pergunta: “quem são esses Elhoim?” A versão inglesa da Bíblia traduz Elhoim por Deus, isto é, traduz um nome no plural, para outro no singular. E o Gênesis (I, 26), quando diz: “E Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, está confirmando o plural desses Elhoim.

O antropomorfismo e a revelação cavam um abismo intransponível entre o mundo material e as extremas verdades espirituais. Assim o desdobramento do Eterno Único em dois (o Grande Pai e a Grande Mãe) já revela, de início, um horrível conceito antropomórfico em atribuir sexo às primárias diferenciações do Único [o Grande Pai (Espírito) e a Grande Mãe (a Matéria)] e mais errado ainda é identificar essas primárias diferenciações com os Elhoim ou poderes criadores e atribuir, a eles, a formação e construção deste mundo visível, de sofrimentos, pecados e tristezas.

A criação dos Elhoim é, na verdade, uma criação muito posterior, e eles, Elhoim, estão longe de ser, como querem os judeus, as potestades supremas da Natureza. Os Elhoim não são nem as potestades de elevada categoria na Hierarquia Divina, mas simplesmente Anjos Inferiores. Assim ensinava o Gnosticismo, que foi a mais filosófica de todas as escolas do Cristianismo primitivo.

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